A adolescência me trouxe uma fase de rebeldia e revolta, não cansava de dizer, categoricamente, à quem quer que me perguntasse sobre ele, “nunca me fez falta”. Hoje sei que apenas mentia pra mim mesmo. Claro que a falta teria sido muito maior, não fosse minha mãe, que supria tudo o que e como podia. Tive uma infância feliz, muito feliz mesmo, graças a ela e seus sacrifícios. Muito devo também a minha vó materna (inclusive alguns pequenos traumas), minha irmã e meu tio. Não fosse ele não teria para quem entregar os trabalhinhos da escola no Dia dos Pais.
Agora, não sem lágrimas nos olhos, consigo admitir que sempre quis que alguém me visse jogar bola, driblar o time inteiro e deixar o goleiro no chão, ter alguém pra apontar enquanto corria comemorando o gol que acabara de fazer.
Alguém pra eu mostrar a música nova que aprendi ao violão e a música que compus. Pra me aplaudir no primeiro show da minha banda, até pra mentir e dizer que a minha era a melhor banda do festival, do mundo. Pra ver os amigos que fiz, pra me ensinar a andar de bicicleta, a nadar, a dirigir, a fazer a barba.
Será que ele gosta de acordar mais cedo só pra ver o sol nascer? Será que ele lembra de alguém especial quando vê a lua? Será que ele, alguma vez, já ficou horas vendo o ir e vir das ondas tentando entender o sentido da vida? Queria respostas pra entender estas minhas loucuras.
Hoje, antes de vir para o trabalho, meu irmão caçula me perguntou “mano, quer ver o que eu fiz na escola ‘do’ dia dos pais?”, “quero, sim”, respondi. Logo me trouxe ele uma caixa e foi me passando três folhinhas, a primeira um “diploma” de melhor pais do mundo, a segunda um desenho de um pai e seu filho, e o terceiro, o que ele mais gostou, um cartãozinho em formato de carro e dentro escrito, com a grafia dele próprio, no auge da segunda série, “Eu Te Amo Pai”, e seu nome abaixo. Elogiei os trabalhos dele, com os olhos mareados (acho que estou ficando velho e motivo demais). Ao escrever agora este parágrafo me dei conta de que esta deve ser a primeira vez que escrevo estas quatro palavras juntas, “eu te amo pai”. Mesmo “pai”, nunca foi uma palavra que usei muito.
Nos últimos meses tenho procurado me “aproximar” de meu progenitor, não tem sido muito fácil pra mim, acho que pra ele também é estranho. Com uns 16 anos fiz uma música pra ele, em um trecho final escrevi “sei que pra sempre vamos nos arrepender de termos perdido tanto tempo quando não tínhamos tempo algum a perder”. Nunca a mostrei a ninguém.
Melhor parar por aqui.
Pra finalizar, só quero desejar um feliz dia dos pais, ao melhor pai do mundo, minha mãe. TE AMO “Pãe”, obrigado por tudo "Maria", sempre.
Marcelo Rutshell.
P.S.: desconsiderem qualquer erro gramático e ordem racional, foi escrito sem antes "editar o pensamento".
(escrito em 09/08/2014)
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